Dentro de campo, são 90 minutos de bola rolando, faltas, pedaladas e muita competição, mas logo ao lado, nas arquibancadas do estádio, estão mulheres dispostas a doar todas as energias na torcida por seus times de coração.
Elas, ao contrário de muitas, não vão aos estádios só para acompanhar os namorados, maridos e irmãos e muito menos para "colocar a conversa em dia". Essas mulheres, que assistem aos jogos ao vivo, são torcedoras fanáticas que driblam as piadas de mau gosto só para torcer e se divertir.
A advogada Carla Moulin, de 27 anos, foi ao seu primeiro jogo de futebol nas eliminatórias da Copa do Mundo em 1993, quando o Brasil ganhou por 2 a 0 da seleção uruguaia. Desde então, assumiu isso como um hobbie. "Naquele mesmo ano, lembro-me de assistir à final da Copa Conmebol entre Botafogo e Peñarol pela TV, mas meu desejo era estar no Maracanã", diz. Hoje, 14 anos mais tarde, ela já tem até as datas dos jogos reservadas na agenda para ver seu time jogar.
A maioria das mulheres que gostam do esporte alega que ir aos estádios de futebol passa longe de ser um passeio qualquer. Apesar de aproveitarem para encontrar os amigos, elas garantem que estão lá para apreciar o jogo. "Prestamos muita atenção e vibramos de verdade com os bons lances, bem como ficamos arrasadas quando eles não são favoráveis", diz Maiara Batista Prado, presidente da torcida organizada Savóia Feminina.
A Savóia Feminina, ala da Torcida Acadêmicos da Savóia, conta com a participação de várias meninas fanáticas pelo Palmeiras, que vão aos jogos de futebol para dar "aquela" forcinha para o time. "Enfrentamos qualquer tempo,qualquer horário, qualquer dia e qualquer lugar para acompanhar o Palmeiras", enfatiza.
A presidente Maiara já não nega mais que a paixão pelo time é, segundo ela, maior que tudo. "Lembro que havia alguns jogos durante a semana que eu fingia estar doente para faltar no colégio só para ir", revela. Sobre a participação feminina em estádios de futebol, ela diz: "Somos tão humanas quanto os homens e também somos capazes de gostar de futebol".
Porém, quando a questão é o envolvimento das mulheres em assuntos tipicamente masculinos, é impossível não abordar o preconceito. Em maio de 2005, as jornalistas esportivas Delisieé Teixeira, Ana Zimmermann e Gisele Rech, se reuniram no debate "A Mulher, o Futebol e a Comunicação", no Paraná, para discutir a participação das mulheres no jornalismo esportivo. Elas também comentaram a presença feminina nos estádios de futebol e exaltaram que estar num meio machista não é fácil, mas é preciso que a mulher imponha respeito. Na ocasião, as profissionais ainda aproveitaram para enfatizar: "Não vamos ao estádio por que estamos interessadas nas pernas dos jogadores. Vamos porque gostamos de futebol".
As vontades excêntricas das mulheres sempre deram o que falar. Ser pilota de avião? Imagina! Policial ou motorista de ônibus? Nem pensar! E não poderia ser diferente em relação ao futebol. Quando vão aos estádios, por exemplo, são obrigadas a ouvir frases feitas e termos ofensivos como "sapatão" e "mulher macho".
A estudante de Publicidade e Propaganda Talita Jacques, de 20 anos, é de família gremista e torce desde os oito anos de idade. "Antes eu ficava incomodada, mas agora não! Não preciso provar nada pra ninguém e minha paixão pelo Grêmio é maior que qualquer coisa. Vou continuar freqüentando o Olímpico (Estádio do grêmio) enquanto eu quiser", afirma. Ela aproveita para dizer que, apesar de o preconceito ter diminuído nos últimos anos, a presença da mulher em estádios ainda é considerada algo anormal. "Muitas pessoas acham que elas são homossexuais. Se são, ninguém tem nada a ver com isso. Todos são iguais e isso não interfere, mas infelizmente nem todos pensam assim", diz.
Há quem diga que existem táticas para diminuir o preconceito dos homens. Carla, por exemplo, revela: "Com eles, a melhor forma de driblar isso é conversar sobre futebol. O papo rende até que eles esquecem que estão falando com uma mulher", diz. De fato, as diferenças são momentaneamente esquecidas. Quem vai ficar sendo preconceituoso quando o time está prestes a botar a bola pra dentro?
No ano passado, o diretor de cinema iraniano Jafar Panahi lançou o filme"Offside" ("Fora de jogo"), que aborda a história de um grupo de garotas que fazem de tudo para assistir uma partida das eliminatórias da Copa do Mundo, no Azadi Stadium, em Teerã. Ao perceberem a impossibilidade de acesso ao estádio, elas se disfarçam de meninos e tentam driblar a segurança.
Para quem não sabe, as mulheres são proibidas de entrar em estádios no Irã. Em setembro de 2002, o Comitê Cultural do Governo deu uma autorização temporária para a estadia das visitantes no local, contanto que os organizadores do evento fossem capazes de proporcionar as devidas "condições", que incluíam a separação do estádio em alas diferentes. O plano deu errado, já que meses depois, alegou-se que nos jogos, insultos de baixo calão eram gritados e isso poderia afetar, de alguma forma, as mulheres.
Com o apoio da imprensa e com a pressão feminina, o avanço começou a chegar. O jornal Azad chegou até a publicar uma matéria especial em que dizia que algumas mulheres realmente se vestiam de homem para ter livre acesso ao esporte.
Em 2003, os responsáveis pelo jogo do time Paykan admitiram que três jornalistas e um grupo pequeno de torcedoras entrassem no estádio Khodro, no Teerã, para ver a bola rolar ao vivo.
No Brasil, o acesso aos estádios é livre a todos e ninguém precisa se fingir de homem, mas, ainda existe a questão da aceitação, que vem tanto de dentro de casa, por parte dos parentes, quanto de fora, por parte da sociedade. Que a opinião dos outros é importante, ninguém tem dúvidas, mas será que precisamos mesmo viver em função disso?
saude.
ResponderExcluirbom dia.
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